A Quinta do Mocho: uma Galeria de Arte Pública
A Quinta do Mocho: uma Galeria de Arte Pública
Mural do artista Nomen
A Quinta do Mocho não é só um bairro social: agora, os seus prédios são telas de uma Galeria de Arte Pública. O Festival O Bairro i o Mundo, que promoveu a iniciativa, foi um dos cinco finalistas para um prémio do Conselho da Europa: o Diversity Advantage Challenge.
Foi no Festival O Bairro i o Mundo, em outubro de 2014, que se mostraram ao mundo pela primeira vez as fachadas pintadas. Para Maria Eugénia Coelho, vereadora da Coesão Social e Habitação, Educação e Recursos Humanos, na Câmara Municipal de Loures, o evento foi uma "oportunidade" para as colorir. Tal como em 2013, também se criaram obras nos prédios da Quinta da Fonte.
"Grou", escultura com objetos reciclados, Bordalo II
"Tributo a Bob Marley", Odeith
Na Quinta do Mocho já foram pintadas 22 paredes e meia. Artistas reconhecidos como Pantónio, Utopia, Tamara Alves, Ram ou Bordalo II estão representados, e há outros que também querem participar nesta Galeria de Arte Pública. A lista de espera já tem 24 artistas.
"Matilha", com o artista Ricardo Romero em ação.
Entretanto, realizam-se visitas guiadas pela Quinta do Mocho. A primeira, a 28 de Fevereiro, foi orientada por artistas e jovens do bairro e apareceram cerca de 130 pessoas. A próxima é a 28 de Março. Para Hugo Cardoso, da Casa da Cultura de Sacavém, o festival "melhorou bastante os sentimentos de auto-estima e de pertença no bairro."
Visitas guiadas ao bairro. Na imagem, a obra mural de Vespa.
"As pessoas viam as pinturas e davam ideias. O Utopia costumava estar na grua com os miúdos, a pintar", recorda Hugo Cardoso. "Todos os dias, as crianças davam passeios pelo bairro para ver o que tinha sido feito. Só houve uma obra que deu problemas, a da cabeça cortada, do Gonçalo Mar. Mas as pessoas falaram com ele e compreenderam a obra."
O mural do artista Utopia.
Mural da artista Clam
O artista Smile pintou uma girafa numa fachada. Na escola, as crianças do bairro fizeram desenhos de girafas, que deram ao artista. Também decoraram a própria fachada: em cima da pintura de Smile, vêem-se rabiscos infantis, escritos a giz.
O artista RAM a pintar "Molécula da Água". Ao fundo, Smile e a sua "Girafa".
"Molécula da Água", RAM
O artista Smile a pintar com "spray" uma girafa.
"Girafa", Smile
Foi em 2000 que a Quinta do Mocho (cujo nome foi entretanto mudado para Terraços da Ponte) realojou as pessoas que viviam em torres "de que só havia a alvenaria". "As famílias saíram dos prédios abandonados da J. Pimenta, mas não foram acompanhadas. Isso criou tensão com a Câmara", explica Rui Monteiro, do gabinete da vereadora Maria Eugénia Coelho. Para propor a pintura destas fachadas, fizeram-se agora várias assembleias populares para explicar o que ia acontecer aos moradores. No bairro moram várias comunidades dos PALOP: a maior parte das pessoas é de origem angolana, mas há ainda cabo-verdianos e moçambicanos, entre outros. "Muitos já nasceram em Portugal."
Mural dos artistas Nomen, Vespa PDF e Utopia
O mural do artista Raf.
"Menino a rabiscar", Adres
O vídeo da candidatura portuguesa ao Diversity Advantage Challenge, uma das cinco candidaturas finalistas:
No dia 24 de Março foram divulgados os vencedores. Como se sabe, o projeto O Bairro i O Mundo não venceu o concurso mas as obras de arte vão continuar a dar vida e dignidade aos seus espaços edificados.
As notícias sobre a Quinta do Mocho já não são todas negativas. "O bairro foi mais valorizado: passou-se a ideia de que as pessoas podem vir cá. Antes nem entravam, havia esse preconceito." E com ele, concorda Catarina Aidos, do Teatro Ibisco, produtor do festival: "A galeria cria um motivo para as pessoas cá virem." Para quando a sua visita?
Reportagem Espaços & Casas 291, "Quinta do Mocho":
Para saberes mais, vai ao site do Conselho Europeu, à revista Sábado, ao zap.aeiou e à página do Bairro i o Mundo, no FaceBook.
NB: Textos editados pela Equipa BE.