Carnaval é sinónimo de diversão e de festa. Costuma ouvir-se dizer que “a vida são dois dias e o carnaval são três”, frase esta, que demonstra perfeitamente a forma intensa como o carnaval é vivido pelos aficionados desta festividade. Mas, afinal, qual é a origem do Carnaval?
As teorias e opiniões são diversas, tanto em relação ao local do surgimento, como em relação à origem da palavra que dá nome à comemoração. No entanto, há pontos para os quais todas convergem. A transgressão, o corpo, o prazer, a carne, a festa, a dança, a música, a arte, a celebração, a inversão de papéis, as cores e a alegria.
Origem da palavra “Carnaval”
Quanto à origem da palavra, são apontadas duas possibilidades muito diferentes na origem e no conteúdo.
A primeira possibilidade é a oposição entre a ordem e a desordem, entre a representação e a vontade. Desta forma, a palavra é originária do vocábulo latino “Carrum Navalis” , que eram os carros navais que faziam a abertura das Dionísias Gregas nos séculos VII a.C. e VI a.C., momento este em que a euforia e a inversão de valores se estendiam pelas ruas das cidades.
A segunda possibilidade é de origem cristã. A palavra pode ter surgido quando Gregório I, em 590 d.C. transferiu o início da Quaresma para quarta-feira, antes do sexto domingo que antecede a Páscoa. Ao domingo anterior deu o nome de “carne levamen”, que representa a acção de “tirar a carne”. Na terça-feira de carnaval, seria o último dia em que era permitido comer carne, pois, de seguida, viriam os 40 dias de jejum até à Quaresma. Surgimento da Festividade
Quanto ao surgimento também não há consenso. Há quem divida a história do carnaval em quatro períodos: o Originário, de 4000 a.C. ao séc. VII a.C.; o Pagão, desde o séc. VII ao séc. VI d.C.; o Cristão, desde o séc. VI d.C. ao séc. XVIII d.C. e o Contemporâneo, desde o séc. XVIII até ao momento.
No Egipto, os povos primitivos realizavam diversos cultos, desde os sérios aos cómicos, nestes, convertiam as suas divindades em objectos de burla e blasfémia. Em alternativa aos heróis surgiam os sósias paródicos. Outra hipótese apontada para que o carnaval tenha surgido no Egipto é a de que a comemoração iniciou como uma espécie de culto feito para agradecer uma boa colheita, onde as pessoas se mascaravam, dançavam e bebiam. Outra explicação apontada é a de que os povos dançavam e cantavam, mascarados em volta da fogueira, como forma de mostrar a inexistência de classes sociais.
Há, também, quem defenda que o carnaval teve origem na Grécia, quando surgiu a agricultura, as pessoas passaram a comemorar a fertilidade e a produtividade do solo. Na Grécia, era usual fazer-se a teatralização colectiva, onde todos os papéis eram invertidos. Neste momento o povo “acertava contas” com os governantes. Nesta altura, o miserável vestia-se de rei, o rico de pobre, o libertino de líder religioso e os homens de mulheres. Aqui, virava-se o mundo ao contrário.
Em Roma, as comemorações do carnaval, realizavam-se entre os meses de Novembro e Dezembro. Estas comemorações levavam a uma aparente quebra da hierarquia social, quando todos se misturavam na praça pública com muito sexo e muita bebida. Na época das comemorações as escolas e os tribunais encerravam as portas. A festa era composta por corridas de cavalos, desfiles de carros alegóricos, guerras de papelinhos, corridas de corcundas e lançamento de ovos, entre outras diversões.
O carnaval, apesar de não ser bem visto pela igreja, por ser de origem pagã e obscena, foi ganhando algum significado. A igreja determinou que a folia carnavalesca deveria ser realizada antes do inicio da Quaresma, período de jejum e abstinência que antecede a Páscoa. A Portugal chegou no séc. XV e XVI com o nome de Entrudo – introdução à Quaresma. Era festejado de forma muito violenta. No final do séc. XIX nas aldeias Portuguesas, o carnaval era o momento da igualdade e da liberdade para todos, nas cidades era considerado uma luta de classes. Hoje, o carnaval é considerado a grande manifestação de alegria popular. Um momento de convívio, onde o sarcasmo e a sátira social estão em constante presença.
Como refere Virgílio Ferreira, “Que ideia a de que no carnaval as pessoas se mascaram. No carnaval desmascaram-se”.
Liliana Correia
Texto de Liliana Correia, extraído de PQ (Porquê) Jornal
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